16 julho 2010

Não Existe Educação Inclusiva

Questionado sobre a existência de algum bom curso de especialização em educação inclusiva fui obrigado a responder ao meu interlocutor que não conhecia nenhum, mesmo porque eu não acreditava na existência de nenhum curso sobre esse assunto.

Diante da surpresa da pessoa à essa minha afirmação expliquei que o mercado está cheio de cursos que se batizaram com esse título, mas nenhum deles é um curso de educação inclusiva, são cursos para a integração de pessoas com deficiência na escola regular. Não estão preocupados em como tornar a escola um local de qualidade para todos mas, apenas e tão somente, querendo preparar pessoas para receber alunos com deficiência.

E se estamos falando de inserção de um grupo específico de pessoas isso não é inclusão.

Também não se trata de inclusão quando esses cursos focam parte do seu currículo nas características fisiológicas das deficiências. Como se para um professor fizesse alguma diferença saber se a cegueira do seu aluno foi provocada por glaucoma, diabetes ou por algum acidente.

E, mesmo se fizesse, nem por isso duas pessoas cegas pelas mesmas causas poderiam ser educadas da mesma forma. As pessoas com deficiência não são pacotes homogêneos de acordo a deficiência que possuem.

O modelo deficitário ressaltado nesses cursos leva as pessoas que o fazem a acreditar que especialistas médicos vão resolver o problema da educação. Isso apenas reforça a idéia de que é o aluno com deficiência é que precisa se preparar para ser aceito na escola. Se fosse inclusão estariam discutindo o que a escola precisa fazer para atender todos os alunos.

Nenhum desses cursos deixa de falar em legislação, pena que sejam apenas os artigos das leis que garantem a educação para as pessoas com deficiência, deveriam estar lendo a LDB inteira e não só um pedaço. Aí sim descobririam que avaliação é algo decidido pela escola e que ninguém é obrigado a dar prova em 50 minutos e notas de 0 a 10.

Um curso que ensine seus alunos a respeito de como educar todas as crianças. Um curso que ensine a explorar o potencial de cada uma. Um curso que fale de escolas que atendam, com qualidade todo mundo. Um curso que ensine as leis e diretrizes da educação do país. Isso sim seria um curso inclusivo.

Para não deixar a pessoa que me questionava na mão, fui ver se descobria algum curso com esse perfil. E descobri. Atende pelo nome de pedagogia.

Educação inclusiva não é uma modalidade de ensino é a própria educação. Não é uma especialidade, se for, deixa de ser inclusiva.

Precisamos de escolas que preparem os professores a serem educadores de todos? Claro que sim. As nossas faculdades de pedagogia hoje preparam seus alunos para serem educadores dos alunos "médios", uma aberração estatística inexistente na vida real. Precisamos de pedagogos que estejam preparados para educar pessoas. Todas as pessoas.

Quando a formação dos professores for inclusiva ninguém vai precisar correr atrás de pseudo-especializações.

O que todos nós precisamos mesmo é de boa educação.

Retirado do Blog: Inclusão Ampla, Geral e Irrestrita de Fábio Adiron

11 julho 2010

As Nomenclaturas

Em encontro informal com amiga Elaine, fui chamada atenção para atualização do termo que vinha empregando para denominar clientela que foco neste blog.
Ao longo das décadas os conceitos e valores atribuídos às pessoas com deficiência intelectual foram mudando, na tentativa de melhor defini-las. Termos como idiota, mongolóide, mongol e Down (século 19), excepcional (décadas de 50,60 e 70), incapacitado (década de 80)especial, deficiente mental, alunos com necessidades educacionais especiais,portadores de necessidades educacionais especiais e, atualmente pessoas com deficiência foi e, é empregado de acordo com os conceitos e os valores vigentes na sociedade de cada época. Todas essas mudanças de direitos e nomenclaturas são reflexos do enorme esforço para mostrar à sociedade a necessidade de se estabelecer uma transição da integração para a inclusão, que é fundamental para evitar que se criem preconceitos, estigmas, estereótipos e práticas discriminatórias.
Considerando que a terminologia reflete a postura social, a ONU (Organização das Nações Unidas) adotou a nomenclatura "Pessoas Portadoras de Deficiência" (Slee, 1999). Este termo reflete que a deficiência está na pessoa, mas não é a pessoa. Pensando-se assim fica mais fácil atuar na procura de melhora específica do que a pessoa necessita para torná-la capaz de superar os obstáculos que precisa enfrentar.
Estudos feitos sobre mudanças nos programas e categorias nos serviços de educação especial mostrou que mudança na categoria da deficiência de um indivíduo o levava a tratamentos diferentes, auxiliando a sua melhora, integração e engajamento no trabalho.O aumento considerável do número de Inclusões se deve as novas formas de investimento educacional especializado, individualizado, organizado em estruturas adequadas às diferenças.
Todos as criticas sobre a política da Educação Especial e as tentativas de atuação que ocorrem desde 1968 e que se acentuaram nos dias de hoje vem fortalecer e criar maiores discussões e procuras de soluções para um ensino eficaz e adequado para os estudantes com necessidades especiais.Creio que não é reunindo todos em estruturas desfalcadas que conseguiremos avanços.
Algumas leis, medidas e resoluções parecem ainda ser utópicas perante a realidade existente.

05 julho 2010

Índices Atualizados

Novos dados sobre educação são divulgados. A melhora em décimos percentuais medida pelo IDEB não são nada acalentadores mas são comemorados. No ranking mais recente da educação, divulgado pela ONU, o país caiu de 76º para 88º lugar entre 128 países.
Como pode? Melhorou ou não? Dados, estatísticas, indicadores, aplicação de provas e uma série de medidores são lançados na tentativa de quantificar a educação quando deveríamos focar na qualificação. Dados são importantes? Sim, mas se os investimentos estivessem dirigidos para a infra estrutura educacional, automaticamente os índices melhorariam.Menos alunos nas salas, professores com formação continuada, salários suficientes para além da sobrevivência, salas de aula com boas condições físicas e instrumentais, equipe multidisciplinar que suprissem as necessidades individuais dos alunos e abarcassem as novas necessidades sociais que a sociedade capitalista imprime, nossos índices melhorariam significativamente.
Como serão nossos índices quando o processo de inclusão proclamado se estabelecer no todo da educação? Como será medido o avanço nas relações sociais pregada pela inclusão?
Os deficientes mentais estarão incluídos nas taxas de reprovação, evasão ou baixo índice na Provinha Brasil?
Incluir é fazer parte e não simplesmente estar num todo sem atendimento às suas necessidades.

01 julho 2010

Responsabilidade de quem?

Quando refletimos sobre o enxugamento da Escola Especial pela Escola Regular, muitas questões se levantam: o que diferencia uma escola da outra; como estão estruturadas as instituições escolares para atendimento da diversidade; como os profissionais estão sendo preparados; e me deparo com uma questão maior:
de quem é a responsabilidade da aprendizagem?
Do aluno, do professor, da escola, da família ou do Estado?
Segundo Platão, é do Estado, pois a perfeição do Estado dependerá da perfeição dos seus cidadãos. Buscando referências mais atuais vemos que todos têm sua parcela de responsabilidade, mas em diferentes medidas e proporções.
A crise vivida pela educação no mundo contemporâneo vem propiciando o desenvolvimento de inovações pedagógicas que exigem a transformação da postura do educador, do educando e das instituições em relação ao processo ensino-aprendizagem, mas as falhas estruturais e organizacionais demonstram o caráter contraditório das políticas educacionais que reveste a escola de responsabilidades desviantes da função educativa, prioriza o caráter quantitativo em detrimento ao qualitativo e possibilita o acesso a todos através do aumento do número de vagas independente do atendimento às necessidades individuais, sociais e coletivas do núcleo comunitário em que cada instituição está integrada.
O excessivo número de alunos, a diversidade apresentada e a falta de formação dos educadores impedem a continuidade da escolarização das pessoas que precisam de um olhar mais atento às suas possibilidades/necessidades. Aí voltamos à questão maior: de quem é a responsabilidade? Do aluno que não acompanha o andamento da maioria da classe, do professor que não pode atender as diferenças individuais do seu aluno, da escola que não tem a estrutura para dar conta das necessidades sociais e de saúde que sua clientela exige, da família que não suporta a pressão pela falta de adaptação ao sistema ou do Estado que monta uma estrutura que mede o sucesso com relatórios numéricos e financeiros?
A educação é uma construção do homem. Existe na sociedade e faz parte de sua estrutura, de seus processos e, como uma instituição social, é parte do aparato de que classes sociais ou grupos de controle do poder político lançam mão para realizar alguns dos seus interesses e objetivos políticos de domínio ocultos sob propostas de “democratização” através da educação, pois em todas as sociedades é um dos mais efetivos instrumentos de controle social.
O processo educativo tem sua dimensão cultural instrumentalizadora, socializadora que definem as práticas dos educadores e, também tem a dimensão política, que aparece no discurso de pessoas e de grupos que controlam a educação como a de um instrumento dirigido ao bem e ao desenvolvimento de toda a sociedade. Esta mensagem vai sendo transmitida para que as pessoas preservem e reproduzam, com as suas idéias e atitudes, a ordem econômica, política e ideológica da sociedade.
Portanto, a escola especial deixará de existir sem que as instituições regulares estejam estruturadas, organizadas, bem aparelhadas e com seus profissionais preparados para diversidade humana não é pelo bem estar de todos e democratização da educação. Tenham certeza !